
Este é, a par com o 25 de Abril, um dos dias mais importantes do ano. Não só porque celebra todos os trabalhadores, mas principalmente porque nos lembra a todos das conquistas que alcançámos no último século: o direito ao descanso, as licenças de maternidade e paternidade, férias pagas, apenas para nomear algumas.
A luta, nos dias que correm, não é apenas por mais direitos (semanas de trabalho mais curtas ou licenças de parentalidade mais alargadas) mas pela dignidade daqueles que trabalham e não conseguem viver com o seu salário, pelo fim da precariedade ou pela igualdade de género no mundo do trabalho. A lista é longa e os que têm o poder de mudar alguma coisa são normalmente surdos.
Em casa, tive sempre bons exemplos de trabalhadores. Eram tempos diferentes e tanto os meus pais como os meus avós trabalharam praticamente toda a sua vida no mesmo sítio: o meu pai trabalhou na antiga PT até à sua reforma antecipada, a minha mãe foi sempre funcionária pública em escolas do distrito; o meu avô paterno trabalhava na fábrica de leite e a minha avó paterna foi cozinheira e antes ambos tinham trabalhado no campo; o meu avô materno trabalhava na fábrica de lanifícios e a minha avó materna nas Tapeçarias de Portalegre. Nenhum deles frequentou um curso superior e a minha avó paterna aprendeu mesmo a ler e escrever quando eu já era uma criança.
O trabalho sempre foi um tema na nossa casa: o meu pai passava muitos fins de semana e feriados de prevenção, o que significava que, mesmo na noite de Natal, podia ter de sair para que outras pessoas pudessem continuar a comunicar; a minha mãe trazia algumas vezes balancetes para casa para descobrir onde estavam alguns centavos, que as contas não batiam certo. Mas o trabalho era acima de tudo um tema porque todos compreendíamos como era importante e central nas nossas vidas, era uma espécie de porta de salvação ou elevação de uma classe média baixa para uma classe média. O trabalho era e continua a ser político e acho que é uma das razões porque éramos e somos todos de esquerda.
O trabalho não se esgotava nos escritórios ou nas fábricas e continuava em casa, maioritariamente para as mulheres da família. Nas minhas memórias, vive a minha mãe a fritar omeletes ainda o dia não era nascido para o meu pai levar para o almoço; a minha avó materna sempre com o almoço pronto para os meus pais não perderem tempo; a minha avó paterna a tratar das flores e a trazer-nos a fruta ou os queijos que tinha conseguido em troca de sabe-se lá o quê; a minha avó materna a passar cestos e cestos de roupa durante o calor insuportável do Verão; a minha mãe com uma casa que nunca estava desarrumada, sempre reticente em descansar mais do que dez minutos no sofá.
Reconheço o valor do trabalho do meu pais e dos meus avôs mas quando penso em Trabalhador(a) é a minha mãe e avós que me vêm à cabeça. É aquela máxima de primeiro o dever, depois o lazer que nunca mais me largou. E é também a devoção, esforço e abnegação que todas demonstraram em todos os momentos - capacidades que eu gostava também de ter e passar aos meus filhos mas acho que nunca lhes chegarei aos calcanhares.
Este texto foi escrito para responder a um desafio que partilho com algumas pessoas que admiro nesta internet, em que escrevemos sobre o mesmo tema todas as semanas. Esta semana escrevemos sobre trabalhadores/as:
a Carla n’A curva -
a Rita no Boas Intenções - Ser feliz nos intervalos não chega
a Maria João n’A Gata Christie - Trabalhador (as)
a Calita no Panados e arroz de tomate - Trabalhadora
a Mariana no Gralha Dixit - Trabalho
a Joana n’O blog azul turquesa - Trabalhadora
a Helena nos Dois Dedos de Conversa - Trabalhadora
As mulheres alentejanas, então, são as mais trabalhadoras que conheço (a minha mãe e as três irmãs dela).