Se me perguntarem do que sinto saudades do Luxemburgo, a minha resposta imediata é da natureza: das árvores isoladas, das plantas, da floresta à porta de casa, dos campos rasos a perder de vista, da flores que se mudavam conforme as estações em separadores de estrada e rotundas. Ali, tudo parece florir sem necessidade da mão humana.
Os verões raramente são secos o suficiente para tornar tudo castanho ou amarelo e a sombra das florestas nos meses mais quentes é razão suficiente para sairmos de casa. Durante a pandemia, demos graças por termos a floresta ali ao lado, com caminhos marcados, locais de descanso e até um ribeiro: mesmo que nos cruzássemos com outras pessoas, podíamos todos respirar sem medo de adoecermos.
Eu sei que muitas vezes me queixava do tempo no Luxemburgo mas a verdade é que ali ainda se sente a mudança de estações. Em Portalegre, temos a sensação de que, depois de um Inverno gelado e rigoroso, vem sempre um Verão escaldante e em que é impossível respirar. No Luxemburgo, assistimos ao congelar da natureza nos meses frios, ao despontar das primeiras folhas verdes quando chega a Primavera, nas copas das árvores no seu esplendor nos meses de Verão e nos troncos despidos assim que entra o Outono.
No nosso pequeno quintal, tínhamos uma cerejeira que floria durante dois dias e depois se enchia de cerejas no início do Verão sem qualquer cuidado ou tratamento da nossa parte, um verdadeiro milagre de resistência e abundância. No pico do Verão, observávamos da varanda como pássaros variados pousavam no topo da árvore e debicavam as cerejas alegremente.
Sou uma pessoa sem jeito para plantas. Tentei ter cactos e canteiros de flores, plantei vasos com ervas aromáticas mas parece que simplesmente não estou fadada para fazer parte das pessoas que sabe exactamente o que fazer. Mas, mesmo sem ter jeito para a jardinagem, deixei (deixámos) no Luxemburgo a nossa marca em duas árvores plantadas (uma por cada filho que nasceu lá, a convite da comuna onde vivíamos) e essas pequenas e frágeis raízes nunca se poderão cortar.
Este texto foi escrito para responder a um desafio que partilho com algumas pessoas que admiro nesta internet, em que escrevemos sobre o mesmo tema todas as semanas. Esta semana escrevemos sobre plantas:
a Carla n’A curva - Plantas
a Rita no Boas Intenções -
a Maria João n’A Gata Christie - Plantas
a Calita no Panados e arroz de tomate -
a Mariana no Gralha Dixit - Plantas
a Joana n’O blog azul turquesa - Plantas
a Helena nos Dois Dedos de Conversa -