Quando olhei para o tema desta semana, ocorreu-me imediatamente a diferença fundamental entre o meu marido e eu: a forma de ver o mundo e, sobretudo, de lidar com dificuldades.
Para contexto: o meu marido trabalha numa organização humanitária não governamental, onde antes disso tinha também sido voluntário. A sua actividade profissional gira à volta da ajuda a pessoas, o que significa que está mais exposto do que eu a situações de verdadeira tristeza, pobreza ou falta de saúde (física e mental), entre outras coisas. E talvez esta proximidade o ajude a ser como é, não sei.
Dou-vos um exemplo muito simples. Ontem à tarde, não conseguia encontrar o nosso gato mais novo (um bebé com quatro meses): procurei-o por toda a casa, vasculhei os cantos do quintal e nada! Fiz isto várias vezes seguidas, como uma completa tresloucada. Racionalmente, eu sabia que ele não podia ter ido longe - afinal, ele ainda não consegue saltar para sítios muito altos e não há propriamente buracos aqui através dos quais ele poderia escapar. Escrevi ao meu marido “Não sei onde está o gato, já procurei por todo o lado”, na esperança que ele pudesse detectar o meu desespero. Ele retorquiu secamente “Tens de procurar”. Ou ele não compreendia a gravidade da situação ou eu estava claramente a exagerar.
Como dava para adivinhar, não havia nenhuma razão para alarme! O gato, pequenino e magrinho, tinha apenas decidido esconder-se num sítio altamente improvável (talvez porque quisesse estar perto do seu irmão mais velho, sabe-se lá), onde eu não conseguiria vê-lo. Estas coisas tiram-me anos de vida 😫
Agora pensem: isto aconteceu numa situação absolutamente banal, o que será em coisas verdadeiramente sérias? É igual, mas elevado à milionésima potência!
Quando estava à espera dos resultados da minha biópsia em 2023, todos os cenários catastróficos tinham prioridade na minha cabeça e, a cada chamada que recebia no telemóvel com o número do hospital, eu pensava que iam ser as piores notícias possíveis (que tinha de fazer quimioterapia, que era incurável, que se estava a expandir tão rápido que tínhamos de agir já, que se tinha espalhado para outras partes do corpo etc etc etc). A minha cabeça dizia morte morte morte e a cabeça do meu marido? Essa dizia Calma, tudo se resolve.
Nós não somos mesmo iguais e em todos os momentos em que sinto que deixei que a irracionalidade tomasse conta de mim desejo ser como ele. Para ele, quase nada é uma surpresa, praticamente tudo tem uma solução e qualquer problema não passa disso mesmo, um problema. As emoções nunca levam a melhor. Nos dias que correm, é sem dúvida a forma mais sã e inteligente de lidar com o mundo.
Este texto foi escrito para responder a um desafio que partilho com algumas pessoas que admiro nesta internet, em que escrevemos sobre o mesmo tema todas as semanas. Esta semana escrevemos sobre as diferenças entre nós:
a Carla n’A curva - Não somos iguais
a Rita no Boas Intenções -
a Maria João n’A Gata Christie -
a Calita no Panados e arroz de tomate - Não somos iguais
a Mariana no Gralha Dixit - Não somos iguais
a Joana n’O blog azul turquesa -
a Helena nos Dois Dedos de Conversa -
Está visto que não podias ter um Alaska em casa 😂
O Tiago também é muito mais descontraído do que eu, que também penso logo no pior. Para ele, está sempre tudo bem, tudo se faz, tudo se resolve. E, apesar de eu achar que uma certa dose de preocupação é necessária à sobrevivência, grande parte das vezes ele é que tem razão, e dou graças por nos equilibrarmos um ao outro (que eu também o chamo à Terra algumas vezes 😅)