Esta semana meti muita água neste mundo. E, quando digo meter água, quero é dizer chorar.
Sou uma pessoa que pode ser descrita como alguém que “chora por tudo e por nada”, sempre fui, e sempre serei. Mas nos últimos meses a coisa tem-se agudizado: choro por dá cá aquela palha (um gato de rua a comer de uma lata, alguém a ser gentil numa caixa de supermercado, as memórias das cidades vazias em 2020) mas também pelas catástrofes humanitárias, pelas guerras a que assistimos e aquelas de que nem fazemos ideia, pela fome e pelo abandono, pelas caixas de comentários cheias de trolls sanguinários e sem um pingo de empatia ou compaixão pelos outros.
Esta semana meti muita água. Chorei de impotência, com o desespero de alguém que sabe que não pode salvar todas as pessoas do mundo. Chorei a pensar nos pais que vivem na Faixa de Gaza, onde não entra ajuda humanitária há quase 70 dias, a ouvirem os seus filhos a gritarem com fome. Chorei a ler posts de pessoas que admitem, finalmente e depois de toda a resistência de que foram capazes, que o melhor seria morrer.
Esta semana meti água e bastante e fi-lo à frente dos meus filhos. Não sou adepta de lhes esconder a verdade ou fingir que está tudo bem mas também me custa demonstrar assim a minha fragilidade. Mas também quero que eles saibam isso: todos temos momentos em que estamos mais frágeis, há dias em que parece que carregamos o mundo às costas mas fazemos o nosso melhor para levantar a cabeça e seguir em frente. Para mim, é importante que eles compreendam o que é a empatia através do exemplo para que a possam praticar ao longo da vida sem terem de ser lembrados do que é ser humano.
Há quem diga que dar uma boa chorada ajuda a relativizar e a voltar a ganhar o foco no que realmente interessa. Mas esta semana apenas senti o peso da tristeza, uma força que puxa para baixo e torna os dias mais lentos. Lembrei-me das pessoas que estão realmente em perigo de vida, a lutar por um pedaço de pão e envergonhei-me: do centro da abundância e da paz em que vivo, não tenho direito a deixar-me consumir pela tristeza, afogar-me neste mar de lágrimas.
Ainda estou a pensar o que fazer com tanta água, a que já passou e aquela que ainda está por vir.
Este texto foi escrito para responder a um desafio que partilho com algumas pessoas que admiro nesta internet, em que escrevemos sobre o mesmo tema todas as semanas. Esta semana escrevemos sobre trabalhadores/as:
a Carla n’A curva -
a Rita no Boas Intenções - Meter água
a Maria João n’A Gata Christie -
a Calita no Panados e arroz de tomate - Meter água
a Mariana no Gralha Dixit - Meter água
a Joana n’O blog azul turquesa -
a Helena nos Dois Dedos de Conversa -