Mentir com quantos dentes tem na boca
Em que se escolhe a ficção (porque é tão melhor do que a realidade)
Está tudo bem! Aliás, nunca nada esteve tão bem como agora.

A Europa está óptima. Cheia de força, vitalidade e de democracias que abraçaram o multiculturalismo. Os imigrantes estão perfeitamente integrados e são por todos vistos como parte necessária e desejável da nossa vida em sociedade. O estado social está no centro de cada programa de governo europeu e há muito que deixámos de comprar armas e investir em guerras. Os governos de esquerda têm trabalhado com celeridade e obstinação para dar às pessoas melhores condições de vida, especialmente no que diz respeito à saúde, educação e habitação.
E nos Estados Unidos? Absoluta perfeição! Grandes progressos têm sido feitos para garantir e mesmo alargar os direitos das mulheres e das minorias. A liberdade de expressão está neste momento no seu apogeu e é um valor absoluto, incontornável e inegociável para todos os norte americanos. Têm um presidente gentil, educado, moderado e capaz para um lugar de absoluta importância para todo o mundo. As suas instituições não têm falhado uma única vez e o sistema de checks and balances tem funcionado tal como foi desenhado. Os founding fathers devem estar completamente deliciados com o estado da sua nação.
E nem me falem no Médio Oriente! Tem sido incrível assistir à cohabitação de palestinianos e israelitas, num perímetro que permite a ambos os países concretizarem todo o seu potencial sem a aniquilação de direitos ou liberdades de nenhum deles. Há muito que não se pode falar de ocupação ou colonialismo ou de barbárie, apenas de cooperação e integração sem qualquer traço de apartheid. Há muito que não há indícios de conflitos entre os dois países, cuja população tem crescido saudavelmente, sem quaisquer sinais de anos consecutivos de violência e obliteração de direitos. A convivência entre os países árabes e o Estado de Israel tem sido pacífica e de importante cooperação, sugerindo anos de prosperidade e sucesso para a região.
A Rússia tem-se revelado um óptimo parceiro para todos os países, aceitando os seus limites geográficos e comportando-se sem o cinismo e o ímpeto conquistador dos últimos anos. Se calhar devemos agradecer o facto do país não ser liderado por um psicopata sedento de sangue e terra e por ser um território em que todos os críticos do regime se podem expressar livremente, sem medo de repressão. O trabalho que têm feito para ajudar o desenvolvimento da Ucrânia é deveras surpreendente e apreciado por todos.
No continente africano, países como o Congo e o Sudão tomam bem conta dos seus recursos naturais e trabalham para que o lucro proveninente destas actividades seja utilizado para a melhoria das condições de vida da sua população e o progresso dos seus países. É absolutamente inspirador ver como estes países têm tomado conta das pessoas e das infraestruturas, libertando-se de jugo das potências ocidentais e dos efeitos nefastos deste late stage capitalism. Os iPhones nunca mais foram os mesmos depois destes países tomarem conta dos seus metais preciosos mas quem precisa de smartphones quando existem populações inteiras a saírem desta espiral de exploração e pobreza?
E Portugal, Marisa, como descreverias o estado deste país à beira mar plantado? Não podia estar melhor! Arrisco-me a dizer que está no seu apogeu, mesmo depois de centenas de anos de história. A extrema-direita foi corrida da política portuguesa, depois de se provar a sua indecência e inutilidade (porque o que eles queriam era mamar da teta do Estado, tal como viam os outros fazer). E isto aconteceu porque as pessoas começaram a valorizar mais a gentileza, a verdade e a Constituição da República do que alguns videos manhosos no Tik Tok. Aconteceu porque as pessoas voltaram a ler textos longos e a distinguir imagens reais da inteligência artificial e porque deixaram de idolatrar um mentiroso cuja única intenção era chegar ao poder para poder servir os seus donos e silenciar os seus detractores.
Eu não acredito que posso viver neste tempo e ver os meus filhos a florescerem também com o mundo que toda esta boa gente lhes está a deixar. Fico feliz por viver numa sociedade que valoriza o conhecimento, a educação e a verdade - torna o meu trabalho de mãe bem mais fácil. Imaginem se vivêssemos em tempos de escuridão e obscuridade, em que o dinheiro falasse mais alto do que tudo e em que as pessoas achassem que as soluções para os problemas do mundo eram o isolamento, a asfixia democrática, a negação e combate à ciência e o silêncio imposto por actores maliciosos. Isso é que seria um sarilho…
Este texto foi escrito para responder a um desafio que partilho com algumas pessoas que admiro nesta internet, em que escrevemos sobre o mesmo tema todas as semanas. Esta semana escrevemos sobre mentiras:
a Carla n’A curva - Mentir com quantos dentes tem na boca
a Rita no Boas Intenções -
a Maria João n’A Gata Christie -
a Calita no Panados e arroz de tomate -
a Mariana no Gralha Dixit - Mentir com quantos dentes tem na boca
a Joana n’O blog azul turquesa -
a Helena nos Dois Dedos de Conversa - Mentir com quanto dentes tem na boca



Numa sociedade de aparências, o que mais vende é a mentira.