30m de cardio e circuitos infinitos (ou assim parecem!)
Relações de amor-ódio ao som de monges tibetanos num ambiente de total incerteza
Esta semana falo-vos da minha relação com o corpo e com o exercício físico.
É uma história velha e muitas vezes repetida: fui mãe 3 vezes, deixei de praticar qualquer exercício físico, refugiei-me na ideia de que o importante era cuidar deles e descurei, praticamente por opção, a minha forma física. No Luxemburgo, ainda fiz uma tentativa de recuperar o controlo com uma nutricionista, que correu relativamente bem, mas eu gosto demasiado de comer para contar escrupulosamente as calorias que ia colocar no prato ou deixar de comer manteiga com sal. Dietas não são para mim, a não ser que signifiquem que como melhor e em menor quantidade mas por favor afastem as fatias de queijo light e os bifes grelhados em todas as refeições da minha frente.
Durante a pandemia, inspirada e motivada por tantas pessoas que voltavam a ter tempo para os seus hobbies e para cuidar de si, recomecei a fazer exercício em casa e com a ajuda de aplicações e fazia-o regularmente, embora os níveis de esforço não fossem suficientes para ver qualquer alteração na balança. Em todo o caso, à falta de cms perdidos, voltava a mexer-me e a ter uma relação mais saudável com o exercício.
Mas depois chegou o cancro e com ele os efeitos secundários do tratamento hormonal, entre os quais as dores nos ossos e articulações provocadas por hormonas em completa revolução, num caminho forçado para a menopausa. Havia dias em que levantar-me da cama era mais do que conseguia aguentar e em que todas as posições (sentada, de pé, deitada) me eram dolorosas. E eu voltei ao ginásio, consciente que podia não resultar mas era, sem dúvida, a minha melhor chance de me sentir menos destruída.
Comecei devagarinho, com um plano de treinos que deve ser o modelo para mulheres de meia idade. Envergonhava-me de entrar no ginásio mas a idade (felizmente!) já me permite fazer tudo, com vergonha ou sem ela: faço o que é necessário e saio e isto em tudo na vida. No princípio foi difícil mas rapidamente me entusiasmei e comprei luvas para manejar os pesos e escolhi playlists para aqueles momentos de instrospeção, porque fazer exercício é também ter um imenso espaço para pensar. E agora, um ano depois, eis-me num ginásio novo, cheia de vontade de me cansar, de derrotar um corpo que quis dar conta de mim, de ser mais forte todos os dias.
Se tenho sempre vontade de ir? Não mas vou. Quando não consigo num dia, faço por arranjar tempo no outro, uso a minha hora de almoço para não prejudicar o trabalho, vou de manhã bem cedo sempre que a vida mo permitir. Continuo a não gostar de partilhar um espaço com tanta gente mas isso faz parte, cria laços (indesejados) com as pessoas com quem partilhamos os colchões. E, lentamente, sinto a mudança nas pernas, na barriga que retrocede, na minha resistência e na minha sanidade mental porque cada treino é uma porra d’uma conquista.
A semana que passou foi tão ocupada e preenchida por deadlines para entregar coisas no trabalho e coisas para a escola que oscilei entre duas playlists: esta playlist de meditação, para os momentos em que precisava de concentração total e não suportava música e letra e esta outra, nos momentos em que a escrita ou os números me corriam de feição e tudo o que me apetecia era dançar.
Nestes dias, passam dois anos desde que senti o nódulo na minha mama esquerda enquanto tomava banho. Uma das formas de lidar com a pressão das recidivas é celebrar todas as efemérides para me lembrar que ainda estou aqui, ele ainda não regressou e o caminho faz-se (efetivamente) caminhando. Nesse ano, parti para as férias da Páscoa num misto de vontade de desligar e de terror puro e não fui capaz de aproveitar os dias que passámos em Porto Santo. O que mudou desde então? Eu vou-me divertir e viver na mesma, as notícias más (se as houver) estão à minha espera quer eu queira, quer não.